quarta-feira, 13 de julho de 2011

Literatura - "Versos íntimos" de Augusto dos Anjos

Vês! Ninguém assistiu ao formidável                                        
Enterro de tua última quimera.
Somente a Ingratidão - esta pantera -
Foi tua companheira inseparável!

Acostuma-te à lama que te espera!
O Homem, que, nesta terra miserável,
Mora, entre feras, sente inevitável
Necessidade de também ser fera.

Toma um fósforo. Acende teu cigarro!
O beijo, amigo, é a véspera do escarro,
A mão que afaga é a mesma que apedreja.

Se a alguém causa inda pena a tua chaga,
Apedreja essa mão vil que te afaga,
Escarra nessa boca que te beija!



Augusto do Anjos através de sua linguagem tensa revela para os seu leitores a realidade nua e crua. No caso específico deste soneto o poeta evidencia sua visão de mundo particular e, de certa forma, já ressalta a individualidade do homem tão presente na contemporaneidade e o seu instinto competitivo independente da figura do "outro".
A escolha por esse soneto hoje se deu tanto pelo fato de que eu o adoro, quanto pelo fato de ela representar de maneira satisfatória a realidade que vivenciamos atualmente na nossa cidade, talvez fruto dessa desenfreada modernidade líquida em que tudo se estilhaça, desmancha-se. 

Um comentário:

  1. Um videoclipe de Versos a um Coveiro em homenagem ao grande poeta

    http://www.youtube.com/watch?v=Wx2m4yQLI3A&feature=fvsr

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